20 de abril de 2018

Sussurros Diabólicos

Antero




Cortizona, Tilenol, Carbonato de lítio, acho que ouço-os sussurrando para mim, aqueles fantasmas sentinelas,aqueles mesmos causadores de minha insônia ,aqueles mesmo que espreitam meu corpo semi-nu a noite, os mesmos que riem de minhas curvas imperfeitas, estão fazendo isso agora mesmo, neste exato momento em que me olho no espelho preparando-me antes que Jonathan chegue aqui em casa. Existem também esses fantasmas dançantes que sussurram como mosquitos mesquinhos, ridículos, em meu ouvido: “Vá explore a si mesma com uma faca,acerte o músculo, o sangue tem um gosto metálico”,  “Existem um milhão de maneiras de descobrir o quanto de dor um corpo humano de seu peso, exatos 73 kg consegue aguentar.” “A maior tortura é viver sem a dor, sem sentir o gosto de cobre provocado por uma incisão em seu braço esquerdo, um pequeno sulco” “Já empurrara seu avó da escada duas vezes, uma terceira talvez faça-a quebrar a bacia, ou talvez um braço.” Por que você não arremessa a si mesma contra objetos, paredes, não quebre alguns ossos, não queima seu braço nas trempes do fogão? Deverias morder o braço de seu irmãozinho recém-nascido mais vezes, deverias ouvi-lo chorar quando faz isso” Por que choras quando sussurramos pra você querida Vanessa?”


Não posso escutá-los mais, a campainha toca, desço as escadas vagarosamente, descalça, o cheiro do perfume dele contamina o corredor, adoro o cheiro de Jonathan, deixo-o entrar, ele diz que está com fome, talvez tenha sentido o cheiro do peixe que assa no forno, me esqueci de ligar a musica, bem alta, faço isso agora mesmo “Photophobia-If world ends without us” Ele se senta no sofá, logo percebo a forma como ele olha para mim, exatamente para a palavra “Vadia” escrita em minha virilha com aquela lâmina de barbear. 


“Isso mesmo, dance pra ele, provocativamente, és uma vadia de qualquer forma.” “Ele ainda não viu a palavra desejo bem próxima a seu seio” Talvez devesse retirar aquela faca da gaveta” “ Ele pensa que marcará pontos com você esta noite, vamos, corte-o, picote-o, como fizera a si mesma na noite passada” 


Vinho, me esqueci do vinho, acho que já estou bastante bêbada, não estou dançando para ele, estou cambaleando em direção a cozinha para desligar o forno, talvez eu devesse me queimar agora mesmo, talvez eu devesse matá-lo, mas eu o amo,quero transar com ele. A transa é o exorcismo do amor, amar é uma droga, doer é um vicio. Eu sei doer perfeitamente. 

Estou cortando os peixes, vejo aqueles antigos vultos entrarem pela janela da cozinha, um cheiro familiar de erva doce, olho pela janela, estou a vinte e um andares do chão, um corpo que cai desta altura levaria quinze segundos para se espatifar no chão, virar massa de tomate, isso mesmo, devo colocar um molho no peixe. Os fantasmas riem de mim, de meu corpo, de meu peixe quase queimado, dos pedaços em tamanhos imperfeitos, dançam envolta de meu corpo,tentam arranhá-lo, tentam fazê-lo tremer. Jonathan se aproxima de mim, os fantasmas se afugentam no canto da geladeira, Jonathan diz que o peixe está com um cheiro ótimo, ele me abraça por trás, é bom, ele sussurra em meu ouvido “Quero você!” Minhas mãos tremem, ele enfia a mão por debaixo de minha blusa, acho que ele sentira o relevo das palavras escritas com aquela lâmina, ao todo vinte e seis, ele passará a mão exatamente na palavra abulia, circundou a palavra vazia, pressionou forte a palavra esvoaçar, ele sussurra as mesmas palavras, beija meu pescoço, tenta desabotoar meu sutiã, os fantasmas voltam para próximo de mim, Jonathan tenta colocar as mãos em minha calça, não deixo, ele se afasta, eu começo a guia-lo lentamente para o meu quarto, a musica ainda toca alta, os fantasmas ainda nos acompanham, não sussurram apenas observam sádicos enquanto subimos as escadas. Meu quarto iluminado apenas por uma fraca luminária. Jonathan me joga na cama, gosto disso, ele tira minha calça, sorri ao ver a estampa de minha calcinha, começa a beijar minha barriga, vai lentamente descendo, passando por cada palavra, acho que ele não se importa, mas estou pensando em acabar com tudo, quero deixar que ele usufrua de meu corpo que será totalmente dele, acho que lhe devo isso. Jonathan não tem pressa, ele aperta forte meus pulsos, depois meu pescoço, morde minhas coxas... 


“ Isso mesmo, deves matá-lo agora, a faca está bem na sua mão esquerda!” Mate-o, mate-o, mate-o, mate-o, Mate-o, mate-o, mate-o, mate-o, Mate-o, mate-o, mate-o, mate-o, Mate-o, mate-o, mate-o, mate-o,Mate-o,mate-o,mate-o,mate-o!” 

Ele aperta ainda mais forte o meu pescoço, estou gostando disso. “Estou lhe machucando amor” -Pergunta ele. Os fantasmas dançam ao nosso redor, vejo mais vultos, minha visão embaçada, risadas estridentes, mais risadas estridentes, os fantasmas dançam, acerto a garganta de Jonathan, uma, duas, três, quatro vezes, o sangue quente jorra em minha boca, em meu corpo, ele cai ao meu lado debatendo-se, sem conseguir gritar, o lençol branco começa a encharcar, subo nele acerto-o no peito três vezes, deixou a faca cair no piso de madeira, os fantasmas dançam euforicamente ao nosso redor enquanto beijo animadamente o corpo lânguido de Jonathan, lambo o seu sangue, sinto o gosto metálico, escrevo seu nome em minha barriga com aquela mesma faca, os fantasmas contentes dançam de mãos dadas, enquanto ensanguentada desço as escadas. 


Estou na rua agora, seminua, descalça, tremendo, após o banho o nome de Jonathan arde em minha barriga. Acho que estou sendo seguida, são dois homens bêbados, agarram-me pelo braço, estão me levando em direção a um beco escuro da rua vinte e três.



I'm watching you...

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