2 de abril de 2018

Assassinato na Alameda São Pedro

♪Yopa♫

Chovia forte e nesse momento Clarisse queria apenas acender mais um cigarro naquele beco escuro onde era habituada a passar algum tempo pensado na vida em que estava levando em meio àqueles dias sombrios. Ventava forte e por mais que Clarisse tentasse, seu isqueiro não pegava fogo.



Estava arrasada, sentindo um cheiro que vinha de mixto entre lixo, o mornaço de outra madrugada quente, concreto e o próprio aroma da doce cortina de água que castigava o solo. Ela respirou fundo procurando em sua cabeça baixa alguma explicação para entender as circunstâncias que imergiram-na no mundo grotesco de drogas e prostituição. Foi então que escorreu uma lágrima dos seus olhos e ela sorriu, mas não de alegria. Era um sorriso estranho permeando os limites entre o nervosismo ek o desespero de quem não consegue enxergar alguma forma de converter aqueles dias tortuosos em algo de bom.

Sim, era o fundo do poço da decadência ela ali sozinha chorando naquele lugar esquecido por Deus. Um beco entre dois prédios altos, não devia ter mais de 2 metros de largura, porém era extenso o suficiente para seguir por quase um bloco inteiro. As lixeiras que o restaurante do primeiro andar tinha colocado ali exalavam um forte odor que não raramente atraía insetos, vermes e roedores entre outros animais que perambulavam por ali em busca de restos de comida. As paredes descascadas, as pichações e cheiro de vômito, suor, drogas, urina e sêmen ainda davam um toque refinado de podridão para aquele cantinho do inferno aqui na terra.

Porra, hoje por causa dessa chuva nem tem ninguém vendendo nada – pensou Clarisse que neste momento estava tão submersa em suas lamentações a ponto de não notar uma figura singular se aproximando silenciosamente. Era um homem alto com um moletom e calças pretas e um capuz encobrindo seu rosto. Ei menina, você tem fogo? – disse o homem enfiando a mão no bolso como quem fosse tirar dali um cigarro. Ela fitou aguela figura e ficou um tanto incomodada por não conseguir ver o seu rosto que no caso estava coberto até a metade pelo capuz de seu casaco, mas ainda respondeu – tenho sim, mas está uma ventania dos infernos, boa sorte – disse esta última parte com um sorriso no rosto.

Mal sabia ela que estás seriam duas últimas palavras, pois quando Clarisse estendeu a mão com o isqueiro ao desconhecido, o sujeito tirou do bolso uma adaga e a apunhalou na barriga várias vezes. O ato foi tão inesperado que Clarisse não conseguiu nem gritar, ela apenas sentiu a dor do metal rasgando sua pele e então lhe veio um pensamento tolo a cabeca: “É assim que vou morrer? Que vida estupida! Eu não fiz nada de bom, não amei ninguém, nunca fui ninguém, nunca fiz mal para ninguém além de mim mesma! Então é assim que tudo acaba”... E antes que Clarisse pudesse entender tudo aquilo o homem sussurrou aos seus ouvidos – você não tem culpa, nem pecados e agora o mundo está livre de sua existência!

Clarisse escorregou com as costas contra a parede até cair sentada no chão, passou as mãos trêmulas no colo e viu o sangue vermelho se misturando a chuva e a lama. Não podia mais controlar a respiração ofegante e antes que pudesse perceber ela desmaiou. Quando acordou já tinham se passado quatro dias inteiros. Esse foi o primeiro relato de uma vítima contra aquele que mais tarde seria conhecido como A Sombra da Morte, suspeito de vários crimes e assassinatos entre as décadas de 89 e 90.


I'm watching you...

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