28 de janeiro de 2014

A LUZ - Parte I

♪Yopa♫


Não tinha certeza, estava muito confuso, eu não fazia ideia do que estava acontecendo. A princípio pude notar que estava em um local muito escuro, quase tudo estava envolto por uma névoa negra, mal conseguia enxergar alguns vultos sabe-se lá de quê, porém o mais marcante não era a escuridão e minha visão turva e sim um odor muito forte que fazia meu estômago embrulhar. Não saberei explicar se era apenas sangue, lixo, algo podre ou morto, mas aquilo me fazia ter náuseas e vertigens, talvez fosse esse o motivo da minha mente estar tão embaralhada e vacilante.
Num esforço inútil, tentei me recordar de como tinha ido parar naquele local. Será que tinha sido sequestrado? Será que alguém me deu alguma droga? Será que usei alguma droga? Será que fui roubado? Pensando nisso apalpei meus bolsos e a única coisa que encontrei foi um maço de cigarros. Porém estranhamente não me lembro do fato de que eu fumava.

Tentei ter qualquer lembrança, mas o odor era tão forte que parecia sugar meus pensamentos. Foi então que notei, eu estava lá deitado no chão daquele lugar podre completamente dopado pelo ar pesado que ali se acumulara. Tentei me levantar, mas meu corpo não tinha força suficiente e o resultado foi que caí de peito em algo pegajoso, pensando bem, o piso era completamente irregular, não sei se era terra, lixo ou algo parecido. Senti tanto nojo que vomitei deixando aquela sensação ainda pior. Sentei-me em meio aquele local imundo e grotesco e voltei a pensar no que estava acontecendo. O fato é que naquele instante não me vinha ideia alguma á cabeça de como eu poderia ter ido parar naquela situação, nem me lembrei do que estava fazendo antes.
Foi então que uma sensação pavorosa tomou conta do meu corpo, parecia ter algo dentro da minha cabeça dizendo “Eles vão te pegar! Eles vão arrancar sua pele e beber seu sangue! Eles vão te torturar, te fazer sofrer! Eles estão vindo te buscar!”. Juntei todas as forças que tinha e consegui me levantar e acredite, quando fiquei de pé o odor era ainda pior. Tentei verificar visualizar alguma saída ao meu redor ou qualquer coisa que me ajudasse a sair dali. Estava em pânico, minhas mãos suavam, a respiração ofegante, meu coração batia tão rápido a ponto de parecer que ia estourar meu peito, “Tenho que fugir! Tenho que fugir!”  nunca tinha passado por uma situação tão assustadora quanto essa, e o pior é que eu mesmo não sabia o que estava me causando medo, quando penso sobre isso imagino que o pior dos sentimentos é a expectativa de encontrar algo ruim. Comecei a andar meio cambaleante e vi algo bem distante que parecia ser uma luz. Sabia que aquela era a minha chance de escapar daquele lugar horrendo e comecei a seguir o mais rápido que pude em direção a luz.
Andei pelo que me pareceram horas, foi uma eternidade, e ainda assim não tinha alcançado a luz e então
algo muito estranho aconteceu, eu estava perto o suficiente para ver que o local onde eu estava parecia um túnel, mas escorria algo gosmento pelas paredes, parecia que o lugar estava vivo, como se fosse a longa garganta de um daqueles monstros de filme de terror. Pela distancia que estava ainda não saberia dizer se a luz vinha de fora ou se era algo como uma lâmpada bem fraca dentro dali, mas uma coisa era certa, tinha algo ao lado dela, não dava para saber se era um animal, uma pessoa, ou algum objeto fazendo sombra, porém meu corpo estremeceu e perdi instantaneamente vontade de continuar naquela direção, mas e se eu retornasse e o que quer que estivesse lá me perseguisse? E ainda mais, na escuridão quase completa daquele lugar. Não tive saída, o único caminho era seguir em direção à luz. Meu corpo tremia muito, cada passo era como ter a certeza de estar indo de encontro à morte, parecia que minha vida iria acabar no próximo instante e em meio a essa perspectiva, me distraí por um segundo e no segundo subsequente o vulto perto da luz simplesmente desapareceu. Fiquei paralisado naquela hora e era impossível tirar da cabeça a ideia de que o que estava ali ia me perseguir e me matar.
Aos poucos consegui dar mais alguns passos, mas a sensação de estar à beira da morte era ainda pior. Tentei pensar que o que vi era apenas minha imaginação me pregando peças pela iluminação precária, mas isso não era o suficiente para eu conseguir manter o pensamento de que estava seguro. Eu não sabia o porquê, mas definitivamente não deveria estar ali, agora claramente podia enxergar um abajur vermelho sobre uma pequena mesa e logo atrás dele uma porta de madeira bem velha e neste momento não pude acreditar, mas o que escorria pelas paredes e dava ao local aquele cheiro horrível me parecera realmente ser sangue. Pensei em correr e abrir logo a porta para acabar de uma vez com tudo, mas mal tinha forças para me manter de pé e segui exausto, quase que rastejando em direção à porta e quando finalmente estava a poucos passos dela a luz foi enfraquecendo e se apagou.
Me aproximei devagar, cada passo meu era como ter a certeza de que ia pisar em uma armadilha e morrer e como a única luz que exista ali tinha se apagado eu estendi as mãos e fui tentando seguir em frente sem tropeçar em nada. Estava muito próximo à saída, mas não podia ver nada, agora tudo era escuridão, tudo completamente envolto por trevas. Finalmente cheguei próximo a parede, o cheiro de sangue e podridão era insuportável e como não pude medir a distância que faltava entre mim e ela, acabei a tocando. Senti meus dedos tocando naquela coisa pegajosa, nojenta e mal cheirosa, assim que senti que minha mão estava envolta por aquela gosma eu não pude conter o vômito que veio tão forte a ponto de quase me jogar no chão de joelhos. O pior é que eu sabia que não tinha outra opção alem de tentar tatear o que estava a minha frente então firmei o corpo contive a respiração e ansiedade e comecei a procurar pela lâmpada ou pela saída e é claro, toquei várias outras vezes naquela parede. Para vocês terem uma ideia, alem da parte viscosa e pegajosa ainda parecia ter pedaços de coisas que eu nem quis imaginar o que poderia ser, mas o fato é que a sensação que tive foi a de estar revirando o estômago de algum animal morto e apodrecendo até que finalmente esbarrei na mesa. Acendi novamente a lâmpada com um certo ar de vitória, porém isso durou pouco. Foi a pior sensação que já tive na vida, não olhei para o lado, mas sabia que o que antes estava perto da luz ali continuava, ou seja, agora estava ao meu lado direito olhando fixamente para mim com o incomensurável desejo de arrancar minha cabeça. Quase entrei em choque e tentei não olhar, mas involuntariamente virei a cabeça vagarosamente para a direita e vi, a coisa mais horripilante que já presenciei, me arrependo até hoje por ter olhado. Era uma garota completamente pálida, os olhos negros como a morte, com presas afiadas, os lábios pingando sangue assim como seus cabelos negros e longos e um sorriso demoníaco no canto da boca. O pavor tomou conta de mim e enquanto estendia mão em direção à maçaneta da porta ela olhou na direção da minha mão o seu sorriso desapareceu dando lugar a uma expressão macabra de violência e ódio, então girei a maçaneta e puxei a porta o mais rápido que pude sendo surpreendido por uma luz muito forte e sem pensar duas vezes saltei no meio da luz fechando a porta atrás de mim.

CONTINUA...

I'm watching you...

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